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Quer emagrecer? Sinta frio!


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Diabete é uma doença metabólica crônica com uma incidência cada vez mais elevada e que tem como um dos principais fatores predisponentes a obesidade. A obesidade é caracterizada pelo aumento do tecido adiposo, tecido este que é o responsável pelo armazenamento do excesso de energia ingerida sob a forma de alimento e não utilizada.

As duas principais ameaças que o ambiente impôs à evolução das espécies foram a falta de disponibilidade regular de alimento e o frio ambiente. Em termos humanos deve-se considerar os primórdios da espécie em que os nossos antepassados remotos não dominavam a agricultura, vivendo da caça e coleta dos alimentos, o que por sua vez resultava em condições precárias de abrigo e proteção contra as condições climáticas adversas.

A genial adaptação evolucionária se deu pelo desenvolvimento do tecido adiposo, que permite que, quando estivesse disponível, o alimento seja estocado no próprio organismo. Lembre-se que não haviam casas nem geladeiras e que os humanos iam prá lá e prá cá, em pequenas tribos nômades atrás do alimento. Quando conseguiam, comiam tudo que podiam pois a próxima refeição era incerta. O excesso de energia era estocado no tecido adiposo e ia sendo usado no período de jejum forçado que ocorria até conseguir alimento novamente na próxima caçada e coleta, o que poderia durar um tempo relativamente longo, comparado com o nosso padrão moderno de várias refeições por dia. Este período estava associado a um gasto de energia elevado, despendido na busca do alimento e fazendo frente às pressões do meio.

Sabemos que o organismo, mesmo em repouso, constantemente utiliza uma quantidade de energia para manter suas funções primordiais e continuar vivo e eficiente. É o chamado metabolismo basal. O processamento bioquímico do substrato para liberar a energia contida nos alimentos produz também a liberação de calor. É este calor do metabolismo basal que mantém a temperatura do nosso organismo em 37° C, mesmo que as temperaturas externas ao organismo sejam mais baixas. Quando fazemos um exercício, aumentamos muito o metabolismo (porque precisamos de mais energia para as contrações musculares), e a produção de calor.

Para não deixar esse excesso de calor se acumular no organismo (a temperatura elevada do organismo é prejudicial ao bom funcionamento das enzimas) nós o eliminamos sob a forma de água morna, ou seja, o suor. E esta perda de água é um dos fatores que produz a sede no exercício. Nós aumentamos também nossa temperatura quando nos submetemos a um ambiente de calor intenso e a estratégia de regulação é a mesma.

Por sua vez quando ficamos expostos a um ambiente frio e a diferença de temperatura entre o organismo e o meio externo passa a ser muito grande, o organismo começa a perder calor para o ambiente. Isto pode reduzir perigosamente a temperatura do corpo. Para regular esta discrepância aumentamos o nosso metabolismo basal, aumentando o calor do corpo (processo este intermediado pela glândula tireoide) e produzimos contrações musculares espontâneas que também produzem calor (é o tremor de frio).

Além disso, várias espécies, inclusive humanos, possuem um órgão especializado na produção de calor: é o tecido adiposo marrom (é chamado de marrom porque, ao contrário do branco, possui muitas mitocôndrias que dão às suas células esta tonalidade). É um tecido com características bioquímicas diferentes do tecido adiposo branco (que serve primordialmente para armazenar gordura), sendo caracterizado como um tecido de alta atividade metabólica. Quando ativado pelo frio, este órgão utiliza combustível armazenado para produzir calor. Esta característica tem, nos últimos anos, atraído a atenção de cientistas devido ao potencial deste órgão como um controlador do metabolismo na proteção contra a obesidade e diabete.

Em um artigo científico recentemente publicado online na revista Diabetes um grupo de pesquisadores demonstrou que pessoas com maior quantidade de tecido adiposo marrom têm um menor risco para obesidade e diabete. Ao contrário do tecido adiposo branco, que está aumentado na obesidade e diminui a ação da insulina, descontrolando a glicose do sangue, o tecido adiposo marrom, além de queimar o excesso de gordura, melhora a sensibilidade da insulina e o controle do açúcar no sangue.

A pesquisa comparou homens saudáveis com altos e baixos índices de tecido adiposo marrom, expostos a uma temperatura normal ou a um frio leve (suficiente para ativar o tecido adiposo marrom, mas insuficiente para produzir tremor) por cinco a oito horas. Durante este período foram coletadas amostras de sangue para análise da glicose, insulina e hormônios e avaliado o consumo de oxigênio. As análises revelaram que o frio ativou o tecido adiposo marrom e os homens com maiores níveis deste tecido tiveram um maior consumo energético com maior queima de calorias, uma maior remoção da glicose da circulação e uma maior sensibilidade da insulina. Todos resultados muito positivos no que tange ao metabolismo, sugerindo que este tecido pode ter uma função antiobesidade e antidiabete .

A questão é: como aumentar o tecido adiposo marrom? Um indício surgido de alguns experimentos recentes sugere que a atividade física regular induziria a produção de tecido adiposo marrom, mas isto é assunto para outro artigo.

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